É nesta homogeneização da sociedade, onde todos têm casas iguais, carros iguais e roupas iguais, que os já referidos Barbara e Sr. Hulot, se comportam como radicais. O Sr. Hulot, com as suas calças demasiado curtas e o guarda-chuva sempre presente, não compreende a tecnologia e vê-a como um entrave à comunicação entre seres humanos. Para além disto, devido à sua constante distracção, perde-se dentro, e por entre, os edifícios de design minimalista. Barbara, uma turista americana em excursão pela Europa, é, tal como o Sr. Hulot, alguém que não se adapta às regras da sociedade: separa-se frequentemente do grupo, para observar o que a rodeia, ou tirar fotografias a uma vendedora de flores; sente a falta de personalidade dos locais onde vai. Ela, que esperava ir a Paris para ver o Arco do Triunfo ou a Torre Eiffel, apenas consegue vê-los reflectidos nas portas da Feira das Indústrias onde o grupo excursionista a leva. Há falta de romantismo, de humanismo, no mar unificado de aço e vidro, e é disto que estes dois personagens, um par inesperado, se apercebem.
Contudo, esta sociedade é na verdade uma fachada, perde muitas vezes a compostura, mostrando que sob o verniz são seres humanos como Barbara e o Sr. Hulot. Um bom exemplo é a desastrosa abertura do The Royal Garden Nightclub.
Quarenta anos depois da sua realização, Playtime continua a ser extremamente actual, uma visão ainda válida sobre a forma como não são o consumismo e a homogeneização dos modos de vida que trazem a felicidade a um grupo de pessoas, mas pelo contrário, são as diferenças entre indivíduos que tornam uma sociedade naquilo que ela é, que a caracterizam.